Representantes de diversos setores da economia brasileira, especialmente os ligados ao segmento automotivo, acompanham de perto as tratativas em Brasília para uma possível aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Combustíveis. O texto apelidado de Kamikaze pelo próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, provoca polêmica diante da estimativa de um rombo de até R$ 150 bilhões nas contas públicas. O montante envolve renúncia fiscal, projetos de mobilidade e custeio de auxílios. Ao mesmo tempo, a proposta é elogiada pelo presidente Jair Bolsonaro e por parlamentares no Senado e na Câmara, de olho em possíveis benefícios nas eleições de outubro.
Alheio às discussões no Planalto, Paulo Miguel Junior, conselheiro gestor da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), defende o equilíbrio no preço dos combustíveis para a manutenção dos negócios de suas associadas, mas também cobra o cumprimento da lei de responsabilidade fiscal por parte da União.
A Abla responde por 11 mil locadoras no País, e os combustíveis representam parte fundamental nos custos das operações – na maioria dos contratos o locador retira o carro na loja com tanque cheio e precisa devolvê-lo em igual condição. A alta constante nos preços dos derivados do petróleo – a gasolina teve alta média de 44,3% em 2021, enquanto o diesel avançou 44,6%, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – tem provocado grande reflexo nos negócios, principalmente nos voltados ao segmento de aplicativos. Segundo o executivo, 170 mil, ou 17% da frota de 1 milhão de veículos disponíveis nas locadoras pelo Brasil, são utilizados para o transporte de passageiros e para a entrega de encomendas. Diante do aumento do litro nas bombas, ocasionado pela alta do barril do petróleo no mercado internacional e pela crise econômica provocada pandemia, aproximadamente 30 mil automóveis acabaram devolvidos às locadoras nos últimos meses. O receio é que esse número cresça à medida que novos reajustes no preço do barril no exterior sejam repassados pela Petrobras às distribuidoras no Brasil.
Junior classifica como “boa” uma compensação no valor do combustível, opção existente em uma das propostas discutidas em Brasília, mas diz ser necessário olhar o resultado como um todo, “porque não podemos cair no risco fiscal”. além de citar que a alta dos combustíveis atua diretamente na inflação ao atingir toda a cadeia. “É necessário achar um caminho, seja através de proposta no Senado, seja na Câmara, que possibilite o equilíbrio do preço. Não falo em controle de preço”, afirmou. “Uma proposta de consenso dentro da realidade dos brasileiros.”
A prioridade à redução do litro do diesel na bomba, defendida pela Associação dos Fabricantes de Veículos Automores (Anfavea) em benefício aos transporte público e ao transporte de carga, é apoiada pela Abla. Para o executivo, há uma grande cadeia vinculada ao produto, que reflete de melhor forma em caso de um equilíbrio de preço. Já a gasolina tem maior influência no transporte individual. “Você atinge mais família, mas propicia do outro lado uma cesta básica mais equilibrada.”
Fonte: Istoé Dinheiro