A avaliação do crescimento da frota sustentável global traz dúvidas e surpresas ao mesmo tempo
As vendas de veículos BEV (puramente elétricos) e PHEV (híbridos plugáveis), que prometem sustentabilidade e baixa emissão no ciclo do tanque à roda, estão estimadas em 8,3 milhões de veículos em 2022. Esse volume representará 10,2% das 81,5 milhões de veículos emplacados no ano em todo o mundo. Em termos de frota mundial, são 24,8 milhões de eletrificados com estas tecnologias, em um mar de 1,47 bilhão de veículos rodando pelo planeta, o que resulta numa participação de 1,7%. Ou seja, de cada 58 veículos em circulação, um é BEV ou PHEV.
A necessidade de reduzir a emissão de CO2 forçará marcas a aumentarem as vendas dos veículos BEV e PHEV num ritmo forte, passando dos 10% previstos em 2022 para 18% em 2025 e 32% em 2030. As limitações para um crescimento ainda maior são os valores altos das baterias e os imensos custos de infraestrutura, especialmente para países em desenvolvimento ou que possuem matriz energética “suja”, onde o carregamento das baterias implique em mais CO2 na atmosfera. Não estão cobertos nestes cálculos os veículos HEV e mild-hybrid, dependentes de combustíveis líquidos, por não precisarem de carregamento, embora também contribuam na redução do CO2 gerado. A tabela abaixo mostra projeções até 2030.
A expectativa de participação de rotas tecnológicas sustentáveis BEV+PHEV é da Bright Consulting. Foram utilizados índices de descarte de 3% para a frota global. Com estes números, a frota de veículos que necessita de estações de carregamento chegará com participação de 10,6% no parque circulante global em 2030.
Existem outras projeções mais arrojadas para a evolução BEV+PHEV que, ao nosso ver, não consideram nem os elevados gastos para a instalação de infraestrutura, nem os recursos para mudança da matriz energética para renováveis, e que preveem que a frota de BEV+PHEV possa atingir 14,1 % do mercado total em 2030, ou um total de 260 milhões de veículos na frota global de 1,8 bilhão de veículos naquele ano.
Para se ter uma ideia, a diferença de infraestrutura de carregamento entre as propostas de 10,6% e 14,1% do parque circulante global significa um aumento de investimento de US$ 0,7 trilhão para US$ 1,1 trilhão em função do aumento da frota e da necessidade do aumento de fast charges que chegam a custar de 5 a 8 vezes mais que um slow charger, sem falar no investimento na mudança da matriz energética.
No caso do Brasil, se as vendas de veículos híbridos plug in se mantiverem crescentes e a de veículos elétricos dobrarem até 2025 e crescerem 50% até 2030, a frota destes modelos atingirá 950 mil unidades em 2030 com participação de 1,8% na frota total de veículos leves prevista de 58 milhões de unidades. Esses veículos eletrificados e carentes de carregamento dependerão de uma rede de abastecimento ao redor de 160 mil carregadores e um investimento da ordem de US$ 3,4 bilhões. Na verdade, precisamos encontrar soluções para os 57 milhões de veículos não eletrificados de uma frota antiga e malcuidada que roda todos os dias no Brasil.
Com estas contas simples, chegamos à conclusão de que 85% a 90% da frota global continuará sendo abastecida por combustíveis líquidos, a grande maioria derivada de petróleo. Estes cálculos mostram que o caminho para o transporte ter impacto zero na emissão de CO2 ainda levará muito tempo, não importa o que prometam os governantes.
Uma aceleração na migração para veículos baterizados demandará mais investimento, mais subsídios e, por consequência, mais emissão de CO2 para produzi-los, algo difícil de absorver após uma pandemia e uma guerra. Essa conta é salgada e muitos países preferirão comprar comida, educação e saúde. São decisões difíceis para governantes e que representam incertezas para o setor automotivo logo à frente.
Fonte: Automotive Business