5 pegadinhas nas garantias dos carros que você nem imagina
Cobertura de até 10 anos atrai muitos compradores, mas detalhes escondidos no contrato podem deixar você sem proteção quando mais precisa; entenda.
“Garantia de 5, 8 e até 10 anos!” É o tipo de promessa que salta aos olhos em anúncios e propagandas de carros novos. Em tempos de veículos cada vez mais caros e complexos, essa segurança extra parece ideal. Mas será que essa cobertura toda realmente protege o proprietário contra imprevistos?
A resposta é: depende (e muito). A maioria das marcas impõe condições rigorosas que podem anular a garantia com facilidade. Itens que não estão cobertos, exigência de revisões exatas na rede autorizada, uso considerado “severo” e cláusulas obscuras são armadilhas comuns. Quem não prestar atenção pode acabar pagando caro.
A seguir, listamos as cinco principais pegadinhas nas garantias das montadoras e como elas se aplicam a marcas populares no Brasil, como Hyundai, Toyota, Chevrolet, Volkswagen, GWM, Citroën, Jeep e outras.
1) A tal “garantia de 10 anos” não cobre tudo
Muitas marcas anunciam 10 anos de garantia, mas esse prazo geralmente vale apenas para componentes específicos e sob regras rígidas.
- Toyota: oferece o programa “Toyota 10”, que estende a cobertura para até 10 anos ou 200.000 km (o que ocorrer primeiro). Essa extensão é válida para veículos fabricados a partir de 2020 que realizem todas as revisões periódicas na Rede de Concessionárias Autorizadas Toyota, conforme indicado no Manual do Proprietário;
- Hyundai e Kia: mantêm 5 anos de cobertura geral e estendem a garantia de motor/câmbio para 10 anos — com exigência de revisões periódicas e inspeções anuais;
- GWM: garante o sistema híbrido (motor, bateria e inversor) por 8 anos, com 5 anos para o carro como um todo.
O número “10” no comercial não significa cobertura total. Na prática, esse prazo ampliado vale apenas para alguns componentes e depende do histórico impecável de revisões.
2) A revisão atrasou? Você perdeu a garantia!
Uma das regras mais rígidas (e menos divulgadas) das montadoras é o cumprimento exato dos prazos de revisão. Se você se atrasar, fizer fora da rede ou usar peças não homologadas, pode perder toda a cobertura.
- Chevrolet: é um exemplo emblemático. Além das revisões obrigatórias a cada 10 mil km, exige o uso de óleo certificado Dexos 1 Gen3 para manter a garantia estendida de até 240 mil km ou 15 anos da correia dentada banhada a óleo, usada nos motores do Onix, Tracker e Montana. A empresa criou um programa de inspeção para revalidar a garantia da correia, uma peça crítica que, se falhar, pode causar pane e comprometer o motor completamente e até o sistema de freio. Para isso, é necessário pagar por uma vistoria (cerca de R$ 660), fazer a troca do lubrificante e, se necessário, substituir o conjunto da correia;
- Volkswagen e Fiat: também não aceitam revisões fora da rede e anulam a garantia com atrasos;
- Toyota: permite tolerância de até 30 dias, mas exige que a quilometragem também esteja dentro do previsto;
- GWM, Jeep e Citroën: seguem a mesma linha com toda revisão feita na concessionária, com uso exclusivo de peças e fluidos homologados.
3) Vários itens não são cobertos, mesmo na garantia
Muita gente imagina que a garantia cobre tudo o que der problema. Mas não é assim: há uma longa lista de itens excluídos, mesmo dentro da cobertura padrão.
- Desgaste natural não entra: pastilhas, discos de freio, embreagem, amortecedores, velas, filtros e pneus estão fora da garantia na maioria das marcas;
- Peças de acabamento: plásticos internos, ruídos, borrachas e palhetas também não são cobertas;
- Toyota: não cobre, por exemplo, a bateria auxiliar de 12V em seus híbridos, mesmo com 8 anos de garantia para o sistema híbrido;
- Volkswagen: na linha ID (como o ID.4), cobre a bateria por 8 anos, mas o restante do carro mantém a garantia tradicional de 3 anos.
É comum também que multimídias, centrais eletrônicas e sensores tenham prazo inferior (geralmente 12 ou 24 meses), sem destaque nas campanhas publicitárias.
4) Uso “fora do padrão” cancela tudo
Seu carro é usado como táxi, em pista ou trilha? Isso pode ser suficiente para anular a garantia, mesmo que o defeito não tenha relação direta com o tipo de uso.
- Renault: reduz a garantia para 1 ano em veículos de frotas, táxis e autoescolas;
- Jeep: apesar da imagem off-road, tem cláusulas que excluem cobertura se o uso em trilha for “intenso” ou causar impactos estruturais;
- Volkswagen: pode anular a garantia por qualquer uso considerado “severo”, incluindo carga excessiva ou uso comercial frequente;
- GWM: cita expressamente em seu manual que a garantia é cancelada em caso de uso indevido, excesso de poeira, água em excesso ou trilhas pesadas;
- Hyundai: deixa claro que reprogramações eletrônicas ou modificações no motor (como chip de potência) anulam imediatamente a garantia.
Modificações como rebaixamento, troca de rodas por aros maiores ou instalação de som com potência elevada também podem ser motivo para negativa.
5) Revisões obrigatórias e condições rígidas podem suspender a garantia
Para manter a cobertura válida durante todo o período prometido, algumas marcas impõem condições que vão além das revisões básicas e podem resultar em custos extras ou perda da garantia.
- Hyundai: no Brasil, oferece 5 anos de garantia sem limite de quilometragem, mas exige o cumprimento rigoroso do plano de manutenção preventiva na rede autorizada. Qualquer atraso ou uso de peças não originais pode comprometer a cobertura;
- Kia: também adotou 5 anos de garantia sem limite de quilometragem desde janeiro de 2024, mas condiciona a validade às revisões pontuais na rede autorizada. A marca é rigorosa quanto ao cumprimento dos intervalos de manutenção;
- Citroën: oferece garantia anticorrosão de 6 anos para veículos de passeio a partir de modelos 2014 e 5 anos para utilitários, mas para manter a cobertura, pode exigir inspeções específicas conforme indicado no manual do proprietário;
- Chevrolet: conforme mencionado na pegadinha 2, exige vistorias pagas (cerca de R$ 660) para revalidar a garantia estendida da correia dentada banhada a óleo, demonstrando como algumas garantias dependem de inspeções extras.
O principal risco é que muitos proprietários descobrem essas exigências apenas quando precisam acionar a garantia, sendo surpreendidos por condições que não estavam claras no momento da compra.
Fique atento antes de confiar nos “anos de garantia”
Garantias estendidas são um atrativo, mas só funcionam se o cliente seguir à risca tudo o que está no contrato. Isso inclui fazer todas as revisões no tempo certo, evitar qualquer modificação, prestar atenção nas exclusões e, em alguns casos, até pagar por inspeções periódicas.
Se você está de olho em um carro com “garantia de 10 anos”, a dica é simples: não se deixe levar apenas pela propaganda. Leia o contrato, pergunte ao vendedor o que está e o que não está coberto, e saiba exatamente o que precisa fazer para manter sua proteção ativa.
Fonte: Auto Esporte