Operação brasileira integra rede de desenvolvimento de novos veículos para o mercado das Américas.
Passados quase dois anos do anúncio de encerramento da sua produção local de veículos, a Ford consegue mostrar a sua nova faceta no país, agora posicionada como empresa global de engenharia veicular. Na sexta-feira, 1º de julho, a companhia apresentou em detalhes como a operação brasileira está inserida em um ecossistema internacional de pesquisa e desenvolvimento, os projetos em execução e uma meta de gerar R$ 500 milhões em receitas para este ano por meio destes novos negócios.
Ao longo do seu processo de reestruturação, que envolveu o fechamento de três fábricas no país, a montadora definiu nove centros de pesquisa e desenvolvimento no mundo, sendo um deles o Brasil. Por aqui, a nova estrutura é formada por uma área de design e novas tecnologias em Salvador (BA), seis galpões em um condomínio industrial em Camaçari (BA), chamado de Ford Park, a já conhecida pistas de testes em Tatuí (SP) e uma área de pesquisa em Pacheco, na Argentina.
As tarefas realizadas em cada uma dessas unidades, as daqui e as do exterior, são definidas em função da linha de veículos de cada região. No Brasil, por exemplo, os mais de 1,5 mil engenheiros que compõem o quadro da empresa atendem às demandas dos projetos de veículos que são direcionandos para mercados das Américas do Norte e Central. A empresa informou que 85% da lista de serviços prestados pela engenharia local hoje tem a ver com essas regiões.
A respeito do que é feito de fato nessa nova estrutura, a companhia explicou que os engenheiros brasileiros estão debruçados sobre projetos intercompany de design e sistemas de entretenimento de veículos que devem chegar ao mercado em entre dois e 10 anos. Os Ford Bronco e Maverick, dois lançamentos recentes da empresa, tiveram a participação da equipe local nessas áreas, ainda que a manufatura de ambos seja realizada a milhares de quilômetros do país.
“A empresa percebeu que não havia como ter escala e rentabilidade produzindo veículos apenas para mercados específicos. Nossa participação era pequena para justificar novos investimentos. Hoje integramos uma ampla rede de engenharia que executa projetos globais, o que mostra que a equipe local tem competência em termos de conhecimento para transformar o Brasil em hub de tecnologia”, disse Daniel Justo, presidente para a América do Sul.
Em Salvador são realizados, por exemplo, pesquisas que utilizam realidade virtual para definir design e sistemas de entretenimento dos veículos futuros da Ford. Já em Camaçari, no Ford Park, a realidade virtual também é aplicada no estudo de novos componentes e sistemas de powertrain. Ali também funciona a startup D-Ford, voltada para a área da inovação aplicada em produtos e manufatura.
Enquanto outras montadoras concentraram seus centros de desenvolvimento nas matrizes e na Ásia, a Ford optou por concentrar a estrutura de pesquisa no ocidente, ainda que das noves unidades, uma esteja instalada na Austrália e outra na China. “A nossa estrutura na China funciona apenas para atender ao mercado chinês, dado o seu tamanho”, disse Andre Oliveira, diretor de engenharia na América do Sul.
Segundo o executivo, o Brasil nesse contexto surge como uma localidade que além de possuir engenheiros especializados no setor automotivo, também se mostra economicamente viável por causa da desvalorização do câmbio ante o dólar. “Aqui no Brasil, por exemplo, muita gente já trabalhou na matriz, nos Estados Unidos. Também é uma região praticamente no mesmo fuso horário da matriz. Mas também é considerado o câmbio nessa equação.”
O desenho desse ecossistema de certa forma beneficia as operações da fabricante, uma vez que está afastada de áreas de conflito e de intempéries naturais, dois fatores que refletem diretamente nas atividades de empresas que mantém operações similares no continentes asiático, por exemplo. Com o fechamento das fábricas ocorridas na China por causa da Covid-19, por exemplo, muitas empresas empresas do setor automotivo passaram a considerar lugares mais seguros para produzir.
Sobre a oferta futura de veículos importados no mercado brasileiro, a empresa não confirma nem descarta trazer ao Brasil modelos equipados com powertrain híbrido, ainda que sua estratégia global aponte para uma oferta 100% elétrica.
“Estamos comprometidos com a redução da pegada de carbono no mundo. Temos tecnologia híbrida em nosso portfólio no exterior e precisamos ver como se comportará a demanda por híbridos no país. Hoje a escala é pequena e desenvolver algo específico para o Brasil não é viável em termos de custo”, disse o presidente Daniel Justo.
Assim que a empresa anunciou o fim da sua produção local, a montadora informou em comunicado que tinha em mãos um plano de trazer ao Brasil um modelo híbrido plug-in. Em sua oferta no exterior, a Ford possui versões híbridas dos SUVs Ford Escape e Explorer, e das picapes Maverick e F-150.
Fonte: Automotive Business