As compras de carros por parte das locadoras, finalmente, parecem estar se normalizando após período de demanda reprimida causado pela escassez de componentes de produção de automóveis. Em agosto, cerca de 32% dos veículos comercializados no país foram vendidos para o setor. Mas sempre que esse estilo de venda cresce, gera-se um mal-estar com o consumidor final: afinal, vender muitos carros para locadoras desvaloriza o produto?
Antes da pandemia transformar o cenário automotivo, as locadoras salvavam as fábricas brasileiras que tinham parte de sua capacidade ociosa. Nessa época, explica o consultor Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, essas empresas tinham um enorme poder de barganha, conseguindo grandes descontos na compra de automóveis. As condições eram tão grandes que o setor de locação lucrava alto com a venda de seminovos.
Quem saía perdendo, no entanto, eram as concessionárias e, principalmente, o consumidor final. Isso porque viam os carros serem vendidos – após um ano de uso – por valores abaixo do mercado, bem mais atrativos.
“Nessa época, poderia acontecer de a concessionária comprar o carro mais caro do que a locadora, que comprava em maior quantidade. Hoje isso não acontece mais. Mas uma coisa permanece: quando um modelo é muito vendido para locadoras, ele acaba desvalorizado no mercado de usados”, explica o especialista.
Segundo Pagliarini, há dois motivos para a queda no preço. “O primeiro é que a locadora vende mais barato para girar o estoque. Ela precisa do dinheiro para comprar carros novos e abastecer o negócio principal, que é a locação. Segundo, porque haverá mais carros iguais disponíveis, é a lei da oferta e da procura.”
Já o consultor Ricardo Bacellar, da Bacellar Advisory Boards, pondera que se há interesse pelo carro, ele não desvaloriza. “Se o carro é visado para compra, o volume de vendas para locadora não influencia, pois haverá pessoas querendo comprar. A quantidade vendida não é o suficiente para desbalancear o mercado”, garante.
Com locadoras com uma demanda reprimida de aproximadamente 500 mil carros, de acordo com a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), as montadoras têm espaço para criar estratégias com suas vendas diretas, sem precisar oferecer grandes abatimentos. Para se ter uma ideia, o volume de vendas entre as cinco maiores montadoras em 2022 foi o seguinte: Fiat (68.891), Volkswagen (47.138), Hyundai (42.950), Chevrolet (27.095) e Renault (16.945).
Volkswagen e Hyundai – montadora que não costumava fazer grandes transações com o setor – aproveitaram para liquidar o estoque de Gol, que deixou de ser produzido, e do antigo HB20, que foi reestilizado em julho. Venderam para locadoras modelos que poderiam ficar encalhados em concessionárias.
Fonte: Uol Carros