Desde 2013 no comando da área de negócios de veículos do Itaú Unibanco, Rodnei Bernardino fala sobre a área de mobilidade no Brasil
Rodnei Bernardino trabalha no setor financeiro há 23 anos. O que pouca gente sabe é que um dos primeiros empregos do estatístico foi na Pirelli. Talvez isso ajude a explicar sua paixão por soluções de mobilidade, sobre as quais ele fala com entusiasmo.
Desde 2013 no comando da área de negócios de veículos do Itaú Unibanco, o executivo comemora o melhor resultado da história do banco na liberação de crédito para a compra de veículos. E falou ao Estadão sobre o projeto da bike Itaú, que deu origem ao Veículo Elétrico Compartilhado (VEC), e as perspectivas para o setor em 2022.
Que balanço o senhor faz dos negócios em 2021?
O ano passado foi muito especial para nós e a área de mobilidade. Bem como para o setor de financiamento de veículos. Investimos muito na operação de veículos, no VEC, em comunicação e na tag Itaú, entre outros produtos e serviços. De janeiro a setembro, colocamos no mercado R$ 25 bilhões em créditos. A alta foi de 67% na comparação com o mesmo período de 2020. No terceiro trimestre, liberamos R$ 10 bilhões em créditos para pessoas físicas e jurídicas – ou seja, houve aumento de 44%. Foi o maior patamar da série histórica do banco. O mercado cresceu bem menos.
Assim, ganhamos participação de mercado. Isso mostra o quanto a gente acredita no segmento automotivo e na melhoria da oferta de transporte e mobilidade. Nossa operação tem como propósito viabilizar o acesso às soluções de mobilidade.
O Itaú Unibanco tem um compromisso muito claro com a sociedade para desenvolver a mobilidade urbana. Nossa história de atuação começou há 12 anos com a bike e vem crescendo. A WTW (plataforma de estreaming) e o Cubo Smart Mobility (aceleradora de startups) também mostram nossa crença nessa causa, que é um pilar importante de sustentabilidade. Vamos continuar sendo um relevante agente do segmento.
A alta da oferta de crédito mostra que as pessoas querem comprar carros…
É muito interessante ver as pessoa procurando novas formas de mobilidade. Estão aí Uber, Cabify e 99, além do táxi e da bicicleta. Há um movimento forte no aluguel de longa e curta durações. Montadoras, locadoras e concessionárias estão investindo no segmento.
Em grandes cidades, como São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte, a relação de carro por habitante é boa. Mas, no Brasil, há um espaço enorme para crescer. E, mesmo nas cidades populosas, a frota é antiga. Tem entre sete e oito anos no caso de veículos leves e varia de 15 a 20 anos nos pesados. Dos 12 milhões de veículos comercializados no País por ano, só 2 milhões são novos. Estudamos muito o comportamento do consumidor, e ele é multimodal. Muita gente tem carro e também usa Uber e bike, por exemplo.
Por causa da pandemia, quem pôde fugiu do transporte público e migrou para o individual. Mesmo havendo mais bicicletas, veículos compartilhados e de aluguel, a gente não vê sinais de canibalização do mercado do carro próprio. E não há indícios de queda nos próximos anos.
Quando a gente projeta para 20, 30 anos para frente, ainda haverá muito espaço. Por causa do potencial, duas grandes chinesas (BYD e GWM), por exemplo, estão entrando no mercado brasileiro, que é o sétimo maior do mundo. O de usados é o terceiro maior. Quem quer viajar ou fazer um passeio de fim de semana pode usar o carro próprio. Para trabalhar ou ir a um almoço de negócio, há soluções como o VEC (Veículo Elétrico Compartilhado) e a bike, por exemplo. E o uso dessas múltiplas opções de modais é uma característica muito forte do consumidor brasileiro.
Como está o veículo elétrico compartilhado?
É um orgulho fazer esse projeto. Estamos aprendendo muito. Vamos esperar um pouco mais para ter a experiência azeitada e ir para a rua. Ou seja, primeiro vamos para as empresas e depois, para o público em geral. O projeto atrasou porque percebemos que ainda há questões para resolver. Por exemplo, como abrir e fechar o carro quando você não está com o celular. Obviamente, o serviço é para ser utilizado por quem quer ir do ponto “A” ao “B”. Porém, pode ser que o usuário queira parar no meio do caminho.
O VEC também vai incentivar o uso do veículo elétrico, que ainda é muito caro. Ou seja, vai permitir que mais pessoas utilizem esse tipo de carro, que é mais sustentável, confortável, seguro e silencioso. Um aspecto interessante é que o projeto atraiu muito mais empresas do que a gente imaginava. As montadoras querem expor seus veículos. Há locadoras e até supermercados e empresas do varejo. Estamos conversando com redes de estacionamentos, porque podemos instalar as estações nesses locais, que são seguros e permitirão que o cliente tenha uma boa experiência.
Quando o veículo estará disponível para o público?
Neste ano, vamos focar as empresas. Inclusive, a gente não imaginava que atrairia esse mercado. Começamos dentro do banco, com carros para os funcionários. Muitas empresas nos procuraram para oferecer também aos funcionários delas. Então, preferimos começar nesse segmento. A partir do início do segundo semestre você vai passar a ver bastante o VEC nas ruas. Acreditamos que em 2023 o mercado estará mais maduro e vamos poder lançar para o público.
Quais são as metas para 2022 e o que o senhor fará para alcançá-las?
O ano de 2022 será desafiador. O banco soltou uma previsão de queda de -0,5% do PIB. Então, acreditamos que o financiamento de veículos deve andar de lado e crescer, no máximo, 1,5%. Não deverá haver aumento da massa salarial, e o desemprego está elevado, assim como a inflação. Além disso, as taxas de juros subiram. A inadimplência costuma crescer no começo do ano, mas não deve causar nenhuma crise. O dado preocupante é o grande endividamento da população.
Continuaremos atuando fortemente no financiamento de veículos e queremos ganhar participação. Porém, vamos manter os pés no chão. Pode haver um soluço aqui e ali, mas o setor não deverá sofrer nenhum tipo de problema sistêmico. Em 2021, foram liberados mais de R$ 200 bilhões para financiamento de veículos no País. Há muito crédito disponível.
Fonte: Estadão